(00:48 h)
iroqueses e algonquinos
uní-vos
deserdados e exilados
agostinhos
e expeditos
Úrsula e Joana
e os esquimós dançando
tragam os nômades
os ciganos
os palestinos
e todos aqueles que cambaleiam
unam-se a nós
no útero desta terra
faz escuro
e ninguém canta
estamos amontoados
sob o viaduto
entre uma alameda e outra
por cima a fortuna escoa
somos nós
quem sorrimos
garrafa de mão em mão
somos nós
a verdadeira sombra
a única
aquela que cai e levanta
obstinadamente
todos nós em um só corpo
em um só monturo
não
não temos nome
nem temos face
brasa de mão em mão
estamos soterrados
pelo eterno terremoto
sente-se aqui
ele diz
o homem livre
aquele de barbas longas cabelos longos
unhas longas unhas sujas
encravadas na sacaria
ele diz
acomode-se, meu filho
bem aqui ao meu lado
somos um só
somos todas as mulheres
somos todos os homens
neste canto de mundo
eu digo
malditos fantasmas
presos à minha pele
sou eu sou eles somos nós os santos
somos
os intestinos
dos santos
e também das tribos das línguas dos rituais
esquecidos
sou os fantasmas grudados à minha pele
como uma coceira
de todos os homens perdidos
não
não estamos perdidos
ele diz
nada é inútil
mas
tudo é desperdício
onde o animal humano toca
senta
deita
ama
e sonha
o que resta é lixo
somos animais doentes
predestinados à doença
somos assim
sujos
olhe em volta
por onde andamos
deixamos nossa marca
e é só isso
ele diz
sorrindo