(07:08 h)

este sim
deve ser o sonho
sempre esqueço o que são cadarços
amarrá-los
os dedos
os nós
qual é o bicho que me calça?
ele tem meu cheiro
meus sapatos
também
as vestes nada representam
no elevador
estou descendo
o inferno está perto
mais perto do que nunca
não foi isto que senti
ao olhar-me no espelho
a genuína face do homem
reconstituída
continuo descendo
há uma cancela
eu sou mais um bicho
quase esqueci do espelho
da lâmina apurada
esculpindo
o que já não sou
os fios da barba
dilacerada
um pão
um copo com café
o olhar dela
que sempre está lá
por trás do balcão
não há manhãs para ela
meu pão meu café meu café com pão
ela está sempre lá
sorrindo
sou eu que nunca estou lá
mas sou eu que desço
com a face lisa
pensando nela
pelas escadas
do metrô