(07:47 h)

sempre que entro num trem
lembro de Cochabamba
que tempos!
foram os melhores
tempos
lá havia revolução
e as viagens não tinham rumos
como esta:
praticamente entalado
entre o real
e a irrealidade
travando
intimidade com um universo
desconhecido
seres de todas as outras galáxias
espalhando seu cheiro
misturando-se ao meu
cheiro
sou apenas um bicho
um animal
na direção
do matadouro
pressentindo o fim
mas são apenas letras de canções
que me distraem
no sacolejo
no sacolejo
não resisto ao ritmo
uma freada
ou quase isto
um encontrão
estou novamente desperto
para o sonho da manhã
eu sou um homem
atravessando a cancela
não me levanto
eu já estou em pé
disparando
penso novamente
eu sou um homem
fugindo
na direção contrária