(18:53 h)
toda escrita é coisa suja
penso
sem sequer saber
de onde tiro
tudo isso
portanto
nada escrevo
portanto
apenas imagino
os dedos sujos a chiqueiro
a palma da mão iluminada
a mente doentia
vertendo líquido
sujo
imagino
que a ciência
mate mais do que as doenças
por isso
não tratarei meu câncer
permito
apenas
que a natureza siga
sua sina
destrutiva
assim
apenas imagino
que os últimos dias correrão
sujos
continuarão mortos
os dias
continuarei vivo
neste mundo de mortos
é o que imagino
no mesmo momento
em que crianças correm pelo vão
do museu magnífico
no momento
em que crianças correm
para o fim
da vida
eu sigo
mansamente
para seu centro
como se você
cidade
fosse apenas
um vulto