(13:13 h)

não era hora nenhuma
na quebrada do rio Pardo
pelas bandas de Ribeirão Preto
há mais de 50 anos
enquanto que aqui na grande cidade
são exatamente 13 horas e 13 minutos
de uma sexta-feira 13
de um mês de agosto
eu que caminho mais uma vez pela avenida
agora em direção ao parque
onde homens eternamente empurram
no alto de um monumento
um grande barco pra lugar nenhum
não era hora nenhuma
na beira do rio Pardo
no rancho do tio Zé Grota
os três primos e o velho
empurrando o grande barco
a vida a infância balançando
não era dia não era tarde
éramos quatro pescando o almoço
o fogão e a lenha esperando
e o silêncio do rio
dentro de outro silêncio
que só a infância poderia guardar
e eu aqui
quase velho
espero uma brecha
entre a multidão
de automóveis de motocicletas
contornando a rotatória
e no entanto
há uma nuvem de sombras
do outro lado
umas árvores bem cuidadas
um chão de folhas que não cansam
de fugir de suas casas
é lá que eu pretendo descansar
pode ser que assim
desapareça essa febre
essa outra multidão
um milhão de pensamentos
o almoço
o rio a avó a travessia
o tio os primos
as escadas o metrô
o café as alamedas
a garota que me abraça
enquanto o dia amanhece
o câncer
a dor correndo
quase alcançando minha alma
um tanto de sombra
outra dose de morfina
e apenas um pouco de paz