(13:17 h)

e no entanto
mesmo sem a licença dos legisladores
a tarde avança sobre o parque
e eu sou um mouro
invadindo a península
o último guerreiro
de um exército de bárbaros
definitivamente extinto
estirado sobre a grama do parque
agora e para sempre
deitado
ou por alguns minutos apenas
dependendo da vontade dos guardas
e é desta maneira
que o início da tarde
se dispersa sobre a relva
e se alastra
e toma as alamedas
as árvores
a pequena ponte
e conquista a superfície do lago
e atravessa
as paredes do auditório
escala o planetário
sobrevoa o bosque
a tarde não depende das leis
ela começa dentro de mim
um fragmento da humanidade
menos do que isto
muito menos
menos ainda
eu que me abraçava aos poderosos
eu sequer um fragmento de poesia
agora e para sempre
uma calma de calor no rosto
enfim liberto
tudo o que tenho está comigo
dentro do meu cérebro
carrego nos meus bolsos
minha passagem para a glória
e no entanto
as árvores
vistas daqui de baixo
possuem formas estranhas
numa hierarquia de galhos
que quase tocam o céu
suas folhas dançam
como pássaros
é tudo o que vejo
um pedaço de céu coalhado
de folhas que são pássaros
é tudo o que sou
um exilado de Pasárgada
deitado
agora e para sempre
dentro da tarde veloz